sexta-feira

sobre o poema posto anteriormente, primeiro leia-o, sim?

mas esse texto eles nunca receberam ou receberão, porque não acho que são hábeis pra tirar daí o que eu gostaria que tirassem e talvez porque não confie neles.


Dever de casa
ou
Manual abortivo para machos (um sample uterino)
ou
Reutilização hormonal: sádicofilantrópica ou informativo-educacional à analista de Bagé?

Eu quero que vocês três leiam isso e que se possível dessa vez respeitem tanto minha privacidade quanto meu silêncio, porque não pretendo retomar esse assunto.
Minha intenção embora pareça dura é demonstrar da maneira mais fiel que conheço a experiência, os reais motivos, e a crítica.
Entendam, no discurso dos três eu estive quase que muda e em ambos imperava tanto a alegoria dum futuro absolutamente saturada, isso é, elevada ao máximo imaginável de percalços possíveis, isso é, digna dum drama épico embora imbuída das preocupações mais mesquinhas e socialmente embasadas do homem moderno (o adjetivo socialmente é aqui empregado com um puta demérito) quanto a redundância. Crônica e surda.
Estou me utilizando dos mesmos métodos, das mesmas medidas e da mesma ênfase embora tenha certeza de que o efeito não será o mesmo, considere a ausência de útero e de talvez capacidade de se outrar imprescindíveis no caso, além de aproveitar a deixa embasada na constatação de que vocês têm uma idéia muito pouco clara das minhas opiniões, possíveis reações, diretrizes, emoções, etc. de fato não surpreende, já que boa parte delas eu não coloco com facilidade e já que sem bons ouvintes um mau palestrante não tem como se colocar firmemente (salvo quando histérico, o que obviamente compromete a validade do discurso).
Não, um poema não é um tratado psiquiátrico em que os sintomas podem ser descritos de maneira objetiva, mas segundo a psicanalista que freqüento (me parece que segundo Freud também) a poesia “está à frente da psicanálise, um passo adiante” (nas palavras dela, não dele) e na minha livre interpretação da idéia consiste numa habilidade, tão válida quanto o sonho ou o delírio, de acessar o inconsciente embora apresente as mesmas vantagens da livre associação quanto a possibilidade de trazer quase que imediatamente à tona (considerando certas habilidades de derrocar paredes morais e travas mentais e de análise textual que acho válido qualquer ser humano tentar desenvolver).
Pro caso de um poema não ser claro, posto que era meu e exclusivamente enquanto parido bem como esse texto é meu e exclusivamente enquanto escrevo e o que pretendo aqui é clarificar questões que vão firmando no real enquanto espanco esse teclado e que não necessariamente pretendo chegar a por à público. Reiterando, me refiro aos três.
O título “prece” é resultante duma ironia fenotípica recorrente em vários momentos do texto, nesse caso em particular justificada pela ausência de qualquer traço religioso em minha personalidade salvo a moral cristã de que somos todos imbuídos pela infeliz colonização de que somos fruto com a qual tenho estado em embate quase permanente há alguns anos e do ritmo que pretendi dar a poesia até o ponto em que as estrofes iniciam em minúscula.
“Esse coágulo/Novo coágulo atado em mim” faz referência as dores abdominais que me andam auxiliando no desenvolvimento duma dificuldade digna de parto para cagar e que segundo uma recente ultra (análogo feminino para exame de próstata ou um adicional, considerando que as fêmeas possuem ambas as possibilidades) feita quinze minutos antes de começar o sangramento que por sua vez acometeu-me uma hora depois de um exame ginecológico pouco menos invasivo e seis ou sete dias depois da data prevista e ao outro aborto pelo qual passei, também doloroso mas consideravelmente mais ameno emocional e fisicamente.
Em “Novamente desatado laço/ Meu bebê a bordo/ Meu aborto” há uma retomada da idéia apresentada anteriormente, uma alusão a laços sanguíneos, certa carga irônica em uma referência a adesivos de carro e possivelmente um filme z e ainda se manifestam sinais claros de dor.
“Meu morto” exerce uma função lapidar no texto (nos dois sentidos possíveis) já que “Lastro do laço desfeito e torto/Talvez gerado sobre a areia esfriada/Pela lua e pelo céu e pelo sêmen/Numa ilha e num hotel e numa rua escura” é um desvio, uma confabulação sobre a concepção do feto que pretende transformar aquilo que seria uma prece em blasfêmia por esporte e princípios, além duma alusão ao poema “neste lençol” devo dizer dotada de todos os meus pudores, possivelmente freudiana. “Esse coágulo/Novo coágulo retido/Nesse ventre que insiste em ser instinto” tem a função de reiterar e retomar o tema central, o aborto. Então “Arde ainda que a razão lhe tenha dito” é a deixa de vocês.
Em “Audito, até a persiana/onde deleitavam horas tortas/de imiscuir-se num possível drama/se o jornal andava como mantra/ kadafi, tsunami, obama” não tenho certeza se deleitavam está adequadamente colocado, a intenção era suprimir um “outros”que refere-se a qualquer pessoa, essa estrofe demarca o fim da prece e foi uma tentativa de alusão um tanto torta a poetas como Gregório de Matos , Bernardo Guimarães, Bocage, entre outros tantos que li parcamente e de quem agora sequelarei o nome sem receios, em poesias de escárnio e mal dizer. É o ponto em que eclode a veia irônica ou em que ela transcende e torna-se sarcasmo e também faz referência ao solilóquio de um de vocês, mais precisamente a circunstância em que ele se deu enquanto “um filho sem pai ou pão ou pleito/cujo peso é cifra e sem direito” faz alusão aos argumentos utilizados por vocês de maneira sucinta e clara e não contundente, prolixa, redundante, insensível, covarde, e digna dum rolo compressor (uma imagem mental que costumo utilizar quando se trata dum individuo ou um grupo de indivíduos da espécie a que inafortunadamente pertencemos que age exatamente como todos os outros ao sobrepor suas demandas ou desejos às de outro ou outros animaizinhos destes que por algum motivo, seja ele de foro emocional, físico ou situacional, estão em desvantagem. ainda que seja uma atitude padrão por vezes ela pode entrar em confronto com a dita moral cristã ou com a ética, que no meu caso inclui preceitos básicos como escutar o outro, respeitar as decisões dele, não pressionar, apenas expor delicada e conscientemente seu ponto e respeitar a porra do silêncio e da privacidade do outro, o que todos vocês deveriam ter aprendido nos filmes 2d da Disney ou num canal educativo ou no tranco, depois de tantos anos convivendo entre si e com suas respectivas cônjuges)
“de ir cegar-se como todo o mundo” faz alusão ao ato de dar a luz, ao “ensaio sobre a cegueira” e àquilo que o Saramago parece ter tencionado demonstrar com o livro.
“Mundo” em maiúscula pode ser considerado outra lápide ou uma tentativa de explicitar o quanto pesa, já “o ventre redondando repetia/rola logo atrás do teu encalço/há de lhe tombar pelo cadarço/macerar-lhe tripa, tronco, traço/trazer-lhe o pulmão pela traquéia” é a descrição detalhada do efeito de algo similar a um rolo compressor, uma esfera grande ao passar sobre um corpo, bem como um depoimento das razões que me moveram a fazer um aborto num feto que tinha mãos, braços, pernas, cabeça, tronco e um coração batendo, ainda que “com a compreensão de um girino” nas palavras de algum de vocês, isto é, eu não posso botar um filho no mundo porque tenho um medo fodido de não poder ensiná-lo a gostar e a se proteger dele, uma vez que não saiba ainda como fazê-lo.
O ventre é como designei um alter ego maternal, que tem voz nesse ponto. “multidão” iniciando em minúscula pretendia suscitar a imagem de um formigueiro embora não seja exatamente óbvio, em “o ventre que aplainava retinia/ essa que apregoa linchamentos/há de lhe enviar beijos augustos” segue a mesma voz,e tem uma referência a “versos íntimos” do Augusto dos Anjos.
e ofertar-lhe bons ensinamentos” é um indicativo de que essas idéias são aquelas apreendidas através do meio, das minhas impressões dele.
“a saliva sabe a escorbuto/a medea lecionava drama” é referência a um texto de Ricardo Domeneck aprendendo a fazer drama com os melhores-lição 2-método medéicoque é parte de uma série que poderá ser indicada como leitura complementar, certamente enriqueceria os termos/temas aqui abordados.
Finalmente, “há o louco, o bom, e o bandido/nos possíveis rótulos da trama” é uma alusão dotada de ironia sobre as possibilidades de enquadramento (ou rótulo, aí como um pejorativo porque inevitavelmente reduz e por ser o mecanismo facilitador no sentido do distanciamento e da simplificação para uma compreensão indolor e torpe do infeliz eu lírico, que afinal se expôs por sua dita conta e risco).

ps: curioso é escrito com sangue, passível de ser lido em anilina.

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