sábado

um sorriso

alguns neologemas

#

plurivociferatriz
[silênciaudaz]
sumismo solsticioso
[rouquideirice]
dentrentranha solapada
[sordisoslaio]
obscuressência sóbria

VENDAVELADA

#

Tolhidoída
Trapisloucando
Trepilusendo
Luzificando

Se Amargureta
Remedifica
Orquídearía
Pra Treslouser

#

       mitifiz á mim
    prosoperene
        e na projeção
    solidifaço
     do que sublimar
             mormaçerei
         a cruza cabal
            ar denso e aço

#

TRONXO
STUFFADO
UM BELO BRAIN
JAZZ - GELO
ESTURRICADO

#

FOLCLORO :

alveja
Vias
Vai Venal de Vez
Varrer
Vermelho

#

brumaNTO
ATORDOENTOA
UM BRADORMIDO
de inSOLÚGUBRES
CUJO soneSCASSO
É SONHardido

#

SILVO ARGUTO
de AZEDOÇE AÇOITE

                                                quando estala é prata
                                                            prêt-à-porter
NUMA – MALHA – LEVE – ESPUMA – PLUMA

s’inda sibilar se faz chicote
sublime, se empunha a pitonisa
                á fazer de pítio submisso
                   numas de dominatrix; algoz

                                    lê nos talhos dele um tal destino

#

AZEDOÇICADO
AÇOITERNURA
MINGUENTUMECEU
A ÍNGUA-LÍNGUA
NO QUE A BOCA ENGRUTECIA OCA
EIS QUE A GRUTA É QUE
DEGRINGOLIA

#

           résalva
 salisilvada
           tezsende
assimcinde
           emsimonia
  algumrés

[que]

se atado ao peito
   vê simpleza
               por beleza
                             à cinza

#

ESTREBUCH’ÁGUA
SALOBROREADA
ENFASTEANDO
DE TRAGAR NAVIOS
NO DEVAGARMENTE
D’UMA ESPUMA ESPEÇA
PEÇA DA PEÇONHA
D’UM MAR SORRIDENTE

#

orquidiário
absurdado
vitemefeito
em vitreovário

redomaleável
que é a bolha
estouresturrica
no que desenfolha

resfolerefaz
desentreformada
estruturardida
nem bem zás
já traga

quarta-feira

obsoleto [ou] com o que se parece uma alma possível

um tanto sádico

lagartas robustas se embrenhariam no emaranhado
dos pêlos pubianos, na penugem da nuca
deixando entrever a pele, empolada

[ primeiro, o laranja que se vê sobre o metal
se é tanta a ferrugem e faz-se a forma
de um mapa talvez de um globo possível ]

espasmos próprios de crise epilética
então, um grito
cortaria
o ar

[ talvez brincar de colher teu grito
pôr dentro dum vidrinho lacrado – aqui, o grito
como o ar de paris certa vez aprisionado
ou as vontades que moravam nos ventres ]

porque vermelhas, as lagartas
tomariam sua nova cor por elogio
contentes se esfalfariam mais e contundentes
pensando talvez instilar mudanças outras
bem-sucedendo em quase susto
obteriam toda uma escala de colorações
somente captáveis por olhares acurados

[ os mínimos deslumbres infantíciosos
de que são capazes os tolos, possível unicíssimo triunfo
sobre os Homens de Ciência e Densidade ]

rósea no entorno, qual mucosa
alaranjado ardente aurifamante
vermelho-china vivaz, encarniçado
rubi sanguíneo abrasador, arredio
magenta amuado degradê pra vinho
pink aberratório, anti-natural
ruivacento pontilhado

[ cosmos aflitivo ]

domingo

Feitura de um curral de tempo:


*

( no encalço 
do gesto 
segue o levante 
de ar corpóreo, aveludado
de cheiro-movimento-peso
e baila uma espiral
de ácaros num 
feixe de sol )

*

1. fechar um quarto cru
- sem móveis, vida, memória -
em que no chão se tenha desenhado
à giz um quadrilátero perfeito

2. tendo anos à gosto retirar
cuidadosamente a película
fina que encobre o quarto
 - os dias, a ausência, os ácaros
o frio ainda que seja alto verão -
salvo aquela inscrita no espaço
delimitado à giz no chão

3. sentar e observar o tempo
encurralado
em um quadrilátero perfeito

*

( tudo sabe
a poeira )
 



quarta-feira

onde:



[a poeta desencana formalmente após descobrir estupefata uma nota do jornal onde seu corte de cabelo recebe os cumprimentos e é algo em comum com Justin Bieber e Camila Pitanga]

dei-me conta num desses
relâmpagos íntimos mais como lanterna em fim de carreira

quiçá é esse eu unicíssimo não mais que bosta rala?
acervo acentuado de idéias simples encadeadas
um trenzinho estrombólico de brinquedo e à vapor
desprendendo cádmio, monóxido de carbono, chumbo
– de trilha – balão mágico/superfantástico pra coicear na vitrola -

uma pira arcaica carrega pela mão pequeninas piras frescas
todas obedientes à beça, catitas, caladinhas, comportadas

dentre elas um filhote de pira-espelho brinca de bailar no rio
(escorrega, quase afoga) na fissura, no clone do cristo, naquela parada
em escorpiões, vilões boa pinta, nothing/anything rebarba de sweet dream
mas com essa carinha six-teen e calça-curta, ergue a fuça: nem água e dá
de ombros pra reflexo (côncavo/convexo/?), corte, caco e corante coral

nessas, o incrível insite

a dita imagem, entre escatologia e miragem, satura até a tampa
é não mais que o arquétipo em voga, quiçá capa da vogue mês passado
amplamente divulgada, a fêmea alucinada, dúbia, confusa
prostituta casta, misantropa extravagante, vai do asilo à suruba
pop pseudo intelectual, porqueira transcendental, adúltero-romântica
frangote frágil, potência duma caralhada de cavalos, egomaníaca, totalmente erotizada
perversa à pampa, prestes a ser canonizada, megalomaníaca sem estribeira à vista
quase crucificada, linchada, apedrejada e vítima de toda a gargalhada
ridicularizada, desprezada, frequentemente ironizada

uma piada

e pode sempre ser Madonna, Britney Spears, Lady Gaga
pode sempre ser Mariana (atriz pornô por acidente, difamada e esquecida),
Bruna Surfistinha (ex-prostituta pródiga autobiografada)
Geisy (vítma de builling devido à mini-saia, acolhida pela mídia e letrada)
pode sempre ser Dita Von Teese (de cinta-liga e chicote)
Gretchen (dançando conga)
Titiolina (e seu ilustre potro)
e pode sempre ser Ana Cristina (poeta, marginal e suicida)
Rita Lee (porralouca na vida e no palco, mostrando a bunda só pra gastar onda)
Pagu (comunista, modernista, também poeta e, naturalmente, do contra)
e pode sempre ser Barbarella, Gulivera, Emmanuelle
e pode sempre ser a Vovozinha, a Vizinha, a Moça sentada do lado agora

[e a gente até podia ficar nessa sempre, mas não vai, felizmente.]

segunda-feira

Namíbia 4


primeira parte

“A imaginação é a memória que enlouqueceu”
Mario Quintana


1950, (...)

Cena 1

chega trôpego

[ as portas de vidro e arabesco acobreado do hotel
escada de mármore branco
papel de parede em motivos barrocos verde água e sépia ]

[ som dos passos ]

sobe
cai na cama

[ o quarto cinza esbranquiçado
a natureza morta no quadro sobre a cama
a mesa de mogno gasta, crua de adereços
as cortinas ásperas, creme
o piso de lajotas sanguíneas desgastadas ]

espirala
cessa tudo;
é breu dentro do olho

Cena 2

entra a moça

[ 17 anos, o papel vergê A3 e prancheta
exausta de todo o dia coletando face alheia
nalgum boulevard – qual?
as ancas ainda poucas, estreitas.
o rosto frágil
os ossos dos cotovelos e joelhos
claros, nítidos, pontiagudos
pontuando a carne ]

o estranho na cama de lençóis
de linho? de algodão ?

[ voz em off ]

– era minha a cama, e o estranho...

[ na cama alugada do quarto impessoal
o lençol branco, o quarto exatamente igual
aos da coluna correspondente no edifício ]

Cena 3


[ voz em off ]

– que se tem a perder?

cena muda, de corpos e atos;

[ ela sóbria, suscetível, só
o noivo que a espera na Suécia
oficial da marinha cuja beleza
de maxilar proeminente impõem austeridade
uma família de relativa liberalidade
ela estrangeira estudando arte
veio ao mundo num 29 de fevereiro
aniversaria de quatro em quatro anos. ]

Ela – abre a porta
e fecha, um gesto rotineiro

Ela – o corpo se move como dum gato
eriçando pêlos e membros
mescla de raiva, adrenalina, curiosidade

Ele – se move na cama
gira o corpo
ressona
ronca um pouco

Ela – reclina o corpo
encosta no homem
semi defunto exalando álcool

Ele – faz que acorda
cerra os olhos
quase abre

Ela – o compele
sacode o corpo pelos ombros
certa delicadeza na revolta

Ele – acorda
um sobressalto e tonteia
estabaca na cama

Ela – abre a porta
indica a saída

Ele – senta-se na cama
calça sem pressa os sapatos

Ela – abranda
afrouxa os ombros
reconsidera;
não corre mais risco

Ele – olha a moça 
nos olhos de ressaca 
indo à mormaço
apaziguando
tornando gris

Ela – observa
acomete certo instinto maternal;
os gestos moles do bêbado
latino, bigodes espessos, estatura mediana

Ela – fecha a porta.

sábado

"já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma"
poema do leminski

desconcertante transtorno e certa veia zoomórfica:

pombo embebido em fuligem futucando alumínio
ácaro incrustado em paletó puído de ombreiras cor de catarro
felino de hábito noturno e andamento de anca ágil quase frágil, ardiloso
peixe à se pensar sereia numa frigideira engordurada
mosca circundando bosta pra pousar na sopa







//num sentido específico/ seio de menina púbere à proeminente câncer benigno/ protuberante acresce agora pelo vazio não exatamente se há ou ar havia/ corpo tomando espaço naquilo ao largo quiçá não seu / alargamento da carne que talvez goela/ supostamente entorno/ dissolução do contorno//

sexta-feira

sobre o poema posto anteriormente, primeiro leia-o, sim?

mas esse texto eles nunca receberam ou receberão, porque não acho que são hábeis pra tirar daí o que eu gostaria que tirassem e talvez porque não confie neles.


Dever de casa
ou
Manual abortivo para machos (um sample uterino)
ou
Reutilização hormonal: sádicofilantrópica ou informativo-educacional à analista de Bagé?

Eu quero que vocês três leiam isso e que se possível dessa vez respeitem tanto minha privacidade quanto meu silêncio, porque não pretendo retomar esse assunto.
Minha intenção embora pareça dura é demonstrar da maneira mais fiel que conheço a experiência, os reais motivos, e a crítica.
Entendam, no discurso dos três eu estive quase que muda e em ambos imperava tanto a alegoria dum futuro absolutamente saturada, isso é, elevada ao máximo imaginável de percalços possíveis, isso é, digna dum drama épico embora imbuída das preocupações mais mesquinhas e socialmente embasadas do homem moderno (o adjetivo socialmente é aqui empregado com um puta demérito) quanto a redundância. Crônica e surda.
Estou me utilizando dos mesmos métodos, das mesmas medidas e da mesma ênfase embora tenha certeza de que o efeito não será o mesmo, considere a ausência de útero e de talvez capacidade de se outrar imprescindíveis no caso, além de aproveitar a deixa embasada na constatação de que vocês têm uma idéia muito pouco clara das minhas opiniões, possíveis reações, diretrizes, emoções, etc. de fato não surpreende, já que boa parte delas eu não coloco com facilidade e já que sem bons ouvintes um mau palestrante não tem como se colocar firmemente (salvo quando histérico, o que obviamente compromete a validade do discurso).
Não, um poema não é um tratado psiquiátrico em que os sintomas podem ser descritos de maneira objetiva, mas segundo a psicanalista que freqüento (me parece que segundo Freud também) a poesia “está à frente da psicanálise, um passo adiante” (nas palavras dela, não dele) e na minha livre interpretação da idéia consiste numa habilidade, tão válida quanto o sonho ou o delírio, de acessar o inconsciente embora apresente as mesmas vantagens da livre associação quanto a possibilidade de trazer quase que imediatamente à tona (considerando certas habilidades de derrocar paredes morais e travas mentais e de análise textual que acho válido qualquer ser humano tentar desenvolver).
Pro caso de um poema não ser claro, posto que era meu e exclusivamente enquanto parido bem como esse texto é meu e exclusivamente enquanto escrevo e o que pretendo aqui é clarificar questões que vão firmando no real enquanto espanco esse teclado e que não necessariamente pretendo chegar a por à público. Reiterando, me refiro aos três.
O título “prece” é resultante duma ironia fenotípica recorrente em vários momentos do texto, nesse caso em particular justificada pela ausência de qualquer traço religioso em minha personalidade salvo a moral cristã de que somos todos imbuídos pela infeliz colonização de que somos fruto com a qual tenho estado em embate quase permanente há alguns anos e do ritmo que pretendi dar a poesia até o ponto em que as estrofes iniciam em minúscula.
“Esse coágulo/Novo coágulo atado em mim” faz referência as dores abdominais que me andam auxiliando no desenvolvimento duma dificuldade digna de parto para cagar e que segundo uma recente ultra (análogo feminino para exame de próstata ou um adicional, considerando que as fêmeas possuem ambas as possibilidades) feita quinze minutos antes de começar o sangramento que por sua vez acometeu-me uma hora depois de um exame ginecológico pouco menos invasivo e seis ou sete dias depois da data prevista e ao outro aborto pelo qual passei, também doloroso mas consideravelmente mais ameno emocional e fisicamente.
Em “Novamente desatado laço/ Meu bebê a bordo/ Meu aborto” há uma retomada da idéia apresentada anteriormente, uma alusão a laços sanguíneos, certa carga irônica em uma referência a adesivos de carro e possivelmente um filme z e ainda se manifestam sinais claros de dor.
“Meu morto” exerce uma função lapidar no texto (nos dois sentidos possíveis) já que “Lastro do laço desfeito e torto/Talvez gerado sobre a areia esfriada/Pela lua e pelo céu e pelo sêmen/Numa ilha e num hotel e numa rua escura” é um desvio, uma confabulação sobre a concepção do feto que pretende transformar aquilo que seria uma prece em blasfêmia por esporte e princípios, além duma alusão ao poema “neste lençol” devo dizer dotada de todos os meus pudores, possivelmente freudiana. “Esse coágulo/Novo coágulo retido/Nesse ventre que insiste em ser instinto” tem a função de reiterar e retomar o tema central, o aborto. Então “Arde ainda que a razão lhe tenha dito” é a deixa de vocês.
Em “Audito, até a persiana/onde deleitavam horas tortas/de imiscuir-se num possível drama/se o jornal andava como mantra/ kadafi, tsunami, obama” não tenho certeza se deleitavam está adequadamente colocado, a intenção era suprimir um “outros”que refere-se a qualquer pessoa, essa estrofe demarca o fim da prece e foi uma tentativa de alusão um tanto torta a poetas como Gregório de Matos , Bernardo Guimarães, Bocage, entre outros tantos que li parcamente e de quem agora sequelarei o nome sem receios, em poesias de escárnio e mal dizer. É o ponto em que eclode a veia irônica ou em que ela transcende e torna-se sarcasmo e também faz referência ao solilóquio de um de vocês, mais precisamente a circunstância em que ele se deu enquanto “um filho sem pai ou pão ou pleito/cujo peso é cifra e sem direito” faz alusão aos argumentos utilizados por vocês de maneira sucinta e clara e não contundente, prolixa, redundante, insensível, covarde, e digna dum rolo compressor (uma imagem mental que costumo utilizar quando se trata dum individuo ou um grupo de indivíduos da espécie a que inafortunadamente pertencemos que age exatamente como todos os outros ao sobrepor suas demandas ou desejos às de outro ou outros animaizinhos destes que por algum motivo, seja ele de foro emocional, físico ou situacional, estão em desvantagem. ainda que seja uma atitude padrão por vezes ela pode entrar em confronto com a dita moral cristã ou com a ética, que no meu caso inclui preceitos básicos como escutar o outro, respeitar as decisões dele, não pressionar, apenas expor delicada e conscientemente seu ponto e respeitar a porra do silêncio e da privacidade do outro, o que todos vocês deveriam ter aprendido nos filmes 2d da Disney ou num canal educativo ou no tranco, depois de tantos anos convivendo entre si e com suas respectivas cônjuges)
“de ir cegar-se como todo o mundo” faz alusão ao ato de dar a luz, ao “ensaio sobre a cegueira” e àquilo que o Saramago parece ter tencionado demonstrar com o livro.
“Mundo” em maiúscula pode ser considerado outra lápide ou uma tentativa de explicitar o quanto pesa, já “o ventre redondando repetia/rola logo atrás do teu encalço/há de lhe tombar pelo cadarço/macerar-lhe tripa, tronco, traço/trazer-lhe o pulmão pela traquéia” é a descrição detalhada do efeito de algo similar a um rolo compressor, uma esfera grande ao passar sobre um corpo, bem como um depoimento das razões que me moveram a fazer um aborto num feto que tinha mãos, braços, pernas, cabeça, tronco e um coração batendo, ainda que “com a compreensão de um girino” nas palavras de algum de vocês, isto é, eu não posso botar um filho no mundo porque tenho um medo fodido de não poder ensiná-lo a gostar e a se proteger dele, uma vez que não saiba ainda como fazê-lo.
O ventre é como designei um alter ego maternal, que tem voz nesse ponto. “multidão” iniciando em minúscula pretendia suscitar a imagem de um formigueiro embora não seja exatamente óbvio, em “o ventre que aplainava retinia/ essa que apregoa linchamentos/há de lhe enviar beijos augustos” segue a mesma voz,e tem uma referência a “versos íntimos” do Augusto dos Anjos.
e ofertar-lhe bons ensinamentos” é um indicativo de que essas idéias são aquelas apreendidas através do meio, das minhas impressões dele.
“a saliva sabe a escorbuto/a medea lecionava drama” é referência a um texto de Ricardo Domeneck aprendendo a fazer drama com os melhores-lição 2-método medéicoque é parte de uma série que poderá ser indicada como leitura complementar, certamente enriqueceria os termos/temas aqui abordados.
Finalmente, “há o louco, o bom, e o bandido/nos possíveis rótulos da trama” é uma alusão dotada de ironia sobre as possibilidades de enquadramento (ou rótulo, aí como um pejorativo porque inevitavelmente reduz e por ser o mecanismo facilitador no sentido do distanciamento e da simplificação para uma compreensão indolor e torpe do infeliz eu lírico, que afinal se expôs por sua dita conta e risco).

ps: curioso é escrito com sangue, passível de ser lido em anilina.

esses dias e duma tacada.

prece

Esse coágulo
Novo coágulo atado em mim

Novamente desatado laço
Meu bebê à bordo
Meu aborto

Meu morto

Lastro do laço desfeito e torto
Talvez gerado sobre a areia esfriada
Pela lua e pelo céu e pelo sêmen
Numa ilha e num hotel e numa rua escura

Esse coágulo
Novo coágulo retido
Nesse ventre que insiste em ser instinto

Arde ainda que a razão lhe tenha dito

Audito, até a persiana
onde deleitavam horas tortas
de imiscuir-se num possível drama
se o jornal andava como mantra
kadafi, tsunami, obama

um filho sem pai ou pão ou pleito
cujo peso é cifra e sem direito
de ir cegar-se como todo o mundo

Mundo

o ventre redondando repetia
rola logo atrás do teu encalço
há de lhe tombar pelo cadarço
macerar-lhe tripa, tronco, traço
trazer-lhe o pulmão pela traquéia

multidão

o ventre que aplainava retinia
essa que apregoa linchamentos
há de lhe enviar beijos augustos

e ofertar-lhe bons ensinamentos

a saliva sabe a escorbuto
a medea lecionava drama
há o louco, o bom e o bandido
nos possíveis rótulos da trama






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fuço espaço
como quem fuma
como quem cai
como quem espia a fechadura
mesmo gesto gasto
meço nuance na gastura

espero

tempo empoeirar o livro
intocado em prateleira estática

mofo enrodilhar a fruta
de tão morta avessa mesmo a mosca

lâmpada de luz enxuta
tão somente vidro ali pendido


traço

de mim define face
azeda
desfia
desfigura



centro

engulo, engasgo, regurgito

                                      não contém

oco
vaso

cacos numa várzea


mito






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pútridopuído

ser sempre o mesmo
poema desde o primeiro poema
sempre o mesmo primeiro poema
o mesmo poema primeiro
sempre sendo o mesmo

tecido à ser

ser sempre o mesmo poema
desde o primeiro poema sempre
o mesmo primeiro poema
o mesmo poema
primeiro sempre sendo o mesmo

à ser tecido

ser sempre
o mesmo poema desde o primeiro
poema sempre o mesmo primeiro
poema o mesmo poema primeiro
sempre sendo o mesmo

pútridopuído


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