domingo

Vitalício

Afogo

“Se tanto me dói que as horas passem”
Pra que usar a cabeça tão erguida se o pescoço torto se curva como caule?
Se fechei os olhos ou apaguei a luz
Foi para não ver
O que a cegueira não deu conta

Desafinando o suspiro
Respiro. O último ar do dia – Em vão
Se esvai pelas minhas pernas
O que o ventre não segura
O que nas horas já não cabe

Me atrevi (a)pagar
Feito vento
Lapsos de tinta espalhados pelo chão

Suada
Percorri com os dedos
A própria pele
O que a carne descuidada
Exilou

Correnteza quando forte
Leva ao peito
O silêncio
Que a criança não fechou

Vitalício sangra como as mulheres
Resquícios de um tempo
Em que o mundo desandou

A cidade desabitada
Dorme a salvo
Já que a mãe
Vendida como suja
Já ventou