quarta-feira

poesia sobre o ocorrido entre as 5:20 e 5:30 e som complementar





o pássaro entra pela janela / esvoaça pra dentro do quarto / bate as asas contra o teto / tromba na parede / topa na quina do armário / empoleira num gancho / [ pego o chapéu na menção de resgate ] / o pássaro  alvoroça com o gesto que nem a bruto ou abrupto chega e novamente espicaça / acaba por ir ao chão / poderia em segundos ascender / lhe custa a vida / ( o gato assiste ao evento atento // não só atento // ávido // não só ávido // assaz // não só assaz // astuto // não só astuto // de dentes e gana à prumo os olhos fixos o corpo inteiro tenciona é flecha do arco antes de inferir o centro do alvo // abocanha ) / [ estupefaço diante do espetáculo / no ímpeto de alma nobre tento salvar o pássaro ao qual está acoplado o gato / trago aquilo até a janela // não basta proferir tabefes // não basta forçar a lateral da boca em que há dente // não basta sacudir no ar aquilo / aquilo está em simbiose // aquilo é uma entidade siamesma // aquilo são um // é natural que seja, assim / aquilo é convidado a se retirar pra que minutos adiante seja o gato ]

terça-feira

um poema

a vida me conta
coisas mexendo
a bocarra em si
lêncio   ou  suss
urro   tão  baixo
que   intuo   por
leitura  l a b i a l


mas


a  sala me conta
históriasemcerta
freqüência de  si
lêncio   ou  suss
urro  tão   pouca
que escuto  com
ouvidocolado  no
c      h     ã      o


mas


o  livro  me  fala
muito além dess
es lábios em  sil
êncio  veemente
mutismo aoqual
assisto sem des
viar a t e n ç ã o


mas


a vespa tem  um
zunido   mutável
segundo a  temp
eratura e compo
sto     por   essa
gama de  ruídos
que  disseco  se
é     v  e  r   ã  o

imagem que gostaria que hoje fosse

segunda-feira

poesia voyeur

uma janela
à frente
da minha
onde há um homem
entre 30 e 40 anos
e não há cortina

o sujeito
anda pela casa
como que perdido
atônito afoito



OU SOU EU?









SOU eu naquela janela
entre 30 e 40 anos
os cabelos ainda tem
melanina, há algum gris
travando
embate
empaco
testando
interruptores
um código pra

aviltar   OU
                 invitar

DESCONHECIDOS

não há cortinas ou móveis
não há livros ou quadros
não há cor nas paredes

aquilo é um cômodo oco
um quadrilátero esvaziado

que é que faz
aquele cara, ALI?







FASTIAGÔNICO
TRINCARDOA
CONSOMOÍDA
CANSARENOSA

som que seria noite fosse hoje noite

quinta-feira

som que seria hoje fosse hoje som



Instruções de uso: Esqueça as imagens. Feche os olhos. Não tem jeito. Não tem pé nem tem cabeça. Fiz um bicho de sete cabeças. Não dá pé nem é direito. Perverso Polimorfo. Auto-erótico. Pulsões parciais. Pulsão de auto-conservação. Pulsão sexual. Teoria do apoio. Escolha narcísica. Troca de objeto. Fase fálica. Fase genital. Confronto com a castração. Medo da perda do amor do pai. Medo da perda do falo. Ele acha que tem. Ela quer ter.Cresça e desapareça. Não foi nada e você fez um bicho de sete cabeças. Recalque. Mudança de zona erógena. Recalcar o clitóris como zona essencial de excitação. Investir na vagina como área predominante. Desejo de ser mãe. Esqueça o bebê que você deseja ter com o seu pai. Mude. O faça com outro homem. Troque a sua escolha objetal. Vá da sua mãe para o seu pai. Saia correndo, tente sair do Édipo. Se iluda. O Édipo não termina nunca. O Édipo positivo resulta numa escolha heterossexual. Inveje o pênis dele, se confronte agora com tudo o que você não vai ter. Fique louca. Não foi nada disso. Não tem ninguém que mereça. Não foi nada ele só recalcou para formar o superego. Ele ainda acha que tem e continua achando, comprando supercarros, superaviões, supermulheres que representam ele mesmo como objeto. Leonardo da Vinci já fazia isso. Amava os objetos como a mãe o amou. O primeiro objeto é para sempre perdido. O encontro é um eterno desencontro. Bicho de sete cabeças. Bicho de sete cabeças. BICHO DE SETE CABEÇAS.

poesia sobre um livro bom de poesia

os muitos poemas que
me ocorreram nesse
elástico zeptosegundo
em que tardei, desde
a livraria até um café
( peço expresso, de início esqueço a água que acompanha. com a água a necessidade de consumo se estende ou se anula na conservação de um dedo derradeiro até a hora em que o poema definir-se entre lixo, algo que me pareça válido ou algo que pode validar na próxima xícara )
eram sem dúvida (ou
tinham a possibilidade
imensada dado o fato
de que não são) melhores
que esse e poderiam talvez
inscrever-me nos anais
(gostaria de algum dia conseguir empregar esse termo esvaziado da ironia e do cômico)
da literatura

           *

o livro que eu lia e que
amanhã voltarei a ler –
espero que – até a última
página era um livro que
eu gostaria de seguir
relendolendo por dias
à fio (e não vou) mas
o livro que eu lia fazia
a voz ( ainda que
muda) coicear, entre –
cortar nos fins das
frases e cujo desenho
do som remeteria à
imagem dum zig-zag de
tamanhos variáveis ou
à varizes



























os espaços vazios eram
lacuna à preencher por
imagens, aquela distância
dura entre as estrofes
(ou cenas) era o lugar
de inserção da imagem
e fosse meu o exemplar
talvez (num dia de
coragem)  pudesse ser
ilustrado
talvez fosse mais válido
o espaço branco que fez
intuir um fotograma
saturado de luz até o
branco completo mas
onde a imagem esteve
e ainda rescinde
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
um corte sem cicatriz
aparente mas que na
memória permanece
sendo corte ou tanto
quanto um corte pode
permanecer na memória

                             *

o livro tinha essa capacidade
de pausar a cena e assim
percorrê-la numa fina
observação dos agentes
estáticos/estatifeitos
que então sutilmente eram
dissecados/desvendados
nos aspectos aparentes
e não-aparentes pelo
onisciente-onipresente
também atemporal visto
que circulava pelo tempo
possível futuro, detalhe de
passado, agora sob lupa
além de por à tona
flashes fecundos das
idéias de cada um
dos agentes –
o livro que eu lia foi
interrompido na página
63 por uma horda de
entusiastas de literatura e/ou
canapés e champanhe que
irrompeu à livraria para a
vernissage

                                               *




quarta-feira

Homenagem ao Arnaldão

poesia(s)que seria(m) hoje fosse hoje poesia(s)



as demais poesias mencionadas estão nesse troço que é lindo, chama  "nome"
e você acha aqui :
(arnaldooficial) ps: clique em Pesquisar e ponha: nome

> um perdão pela explicação à batatinha quando nasce, é que como anta tecnológica & em matéria de lógica, me solidarizo com os meus iguais <

terça-feira

Ártemis e Medéia: uma comparação dos aspectos ligados ao feminino

Resumo:

O que se pretende é fazer uma comparação e aproximação entre Ártemis e Medéia, enfocando as questões ligadas ao feminino e sua simbologia, em especial no que se refere a casamento, parto, estrangeirismo e temas ligados ao selvagem.

Casamento:

Na Grécia antiga o casamento era uma questão primordial para as mulheres, pois, além de inseri-las na vida social, tornava possível uma vida, na medida em que a cultura patriarcal fazia com que a mulher sempre dependesse do homem. “No interior do consciente coletivo do Ocidente cristão, tem-se como aceito que o homem é o parceiro dominador, o intrépido, o objetivo, o ativo, o agressivo. A mulher, porém, caracteriza-se eo ipso pela subjetividade, passividade, receptividade e sensibilidade.” (MALAMUD, p. 80).

Tanto Medéia quanto Ártemis fogem do padrão quanto ao que se espera de uma mulher no que refere ao casamento. Ártemis é a deusa virgem, a que recusa qualquer contato sexual/ amoroso. “Aquilo que é tão íntimo à humanidade - a relação entre os sexos – é totalmente alheio a ela.” (MALAMUD, p. 74). Se nega a casar e a se submeter ao jugo de um homem. Ártemis é livre, dona de si, que não se atem aos amores, que não se vincula aos homens e às paixões carnais. “A transformação das meninas em ursas na Arctéia torna-as animais selvagens, o que as faz assumir, portanto, um papel contrário àquele que lhes será atribuído como esposas e mães na sociedade grega.” (FLORENZANO 1996, p. 26). Aproxima-se do mito das amazonas, mulheres guerreiras que repudiavam qualquer coisa da ordem do masculino. “...desapego aos homens e pelo ódio contra eles.” (MALAMUD, p. 65). “Como se sabe, essas mulheres misteriosas não davam importância ao casamento em geral, nem aos homens e filhos em particular.” (MALAMUD, p. 64).

Já Medéia casou-se tarde e movida por amor, o que era incomum na Grécia antiga. “Na literatura do século IV AC, personagens desesperados por casar com pessoas por quem se apaixonaram perdidamente são objeto de zombaria e de risos.” (FLORENZANO 1996, p. 42). No entanto, mesmo ao se casar, Medéia subverte o papel de passividade dentro do matrimônio com que se reveste a mulher grega. Ela é uma mulher pensante, inteligente, dominadora e apaixonada. Atributos impensáveis para a mulher da época. “Vezes inúmeras nos entregamos a muitas e sutis divagações ao meditar sobre temas mais altos do que às mulheres é normal versar.” (EURÍPIDES, p. 64). Ela não se sujeita o que lhe é imposto como destino pelo marido. Mas só subverte mesmo o que é dela esperado quando Jáson trai o amor deles, por que, mais do que trair um juramento, uma institucionalização do relacionamento, Jasão traiu o amor.

“Choramos por teu sofrimento enorme,
desventurada mãe dessas crianças,
pois vais matá-las por causa do amor
que teu esposo perjuro traiu
só para conquistar outra mulher!” (EURÍPIDES, p. 60)

Assim Medéia acaba com o que resta da família. Mais uma vez ela mostra o seu lado forte e potente ao não aceitar a sua condição de esposa injustiçada e traída. Não acata as novas ordens que lhe impõe um destino tão duro. Medéia, uma mulher que se deixa ao encargo do homem, cede o seu orgulho para a autoridade de Jáson. “...de modo geral, o casamento na Grécia antiga –como instituição- pode ser visto como uma união do homem e da mulher com o fim explícito de procriar filhos legítimos e dar, portanto, continuidade ao oikos do marido.” (FLORENZANO 1996, p. 41). Para ela, o casamento com Jáson não foi um mero negócio, como costumavam ser as uniões, mas um amor extremo que a fez trair as suas próprias raízes. Rebelando-se contra a autoridade de Creonte e desobedecendo Jáson, Medéia altera a história de todos os envolvidos na tragédia.

“Logo te casaste
com o homem que te fala e, depois de lhe dar
dois filhos, imolaste-os às tuas bodas
e ao leito nupcial. Jamais ouve uma grega
capaz de um crime deste, e eu te preferi
em vez de outra.” (EURÍPIDES, p. 74)

Parto

Como deusa do parto, Ártemis é a deusa do lado selvagem da mulher. “Finalmente, ao gerar um rebento, tal como acontece com os animais, o parto- com os gritos, as dores e esta espécie de delírio que o acompanham, o lado selvagem da feminilidade...” (VERNANT 1985, p. 26) Quando a mulher está em trabalho de parto, ela entra em contato com o que há de mais visceral e selvagem do feminino. Ela sente dor, sangra, chora, grita e, finalmente, expele a cria, se aproximando de todas as outras fêmeas do mundo animal, pois o parto em essência é o mesmo para todas. Medéia fala dessa dor animal, “Melhor seria estar três vezes em combates, com escudo e tudo, que parir uma só vez!” (EURÍPIDES, p. 29). “Criei-vos, filhos meus, em vão, sofri em vão por vós, dilacerada nas dores atrozes do parto!” (EURÍPIDES, p. 62)

Medéia e Ártemis têm esse encontro com o aspecto natural das mulheres, as duas são movidas pelo animalesco e selvagem que há em cada mulher. As duas nutrem, amam e cuidam. Ártemis protege as crianças até que essas possam ultrapassar o rito de passagem e cruzar a infância para o mundo adulto. Ela faz essa ponte, cuidando para que cheguem seguros até lá. “Ela cuida de todos os rebentos, dos animais e dos humanos, sejam machos ou fêmeas. Sua função é nutri-los, fazê-los crescer e amadurecer até que se tornem plenamente adultos.” (VERNANT 1985, p. 21). Medéia também tem esse cuidado com os seus filhos -

“... mas ela nos olha,
a nós, criadas, com o olhar feroz
de uma leoa que teve filhotes,
se alguém se acerca com uma palavra.” (EURÍPIDES, p. 26)

Tal qual uma leoa, protegeu seus rebentos. Tinha afeto por eles e é justamente por isso que os sacrifica. Para Medéia, não há prova de amor maior do que o infanticídio que comete.

“Pobre de mim! Que dor atroz! Sofro e soluço
demais! Filhos malditos de mãe odiosa,
por que não pereceis com vosso pai? Por que
não foi exterminada esta família toda?” (EURÍPIDES, p. 24)

Ela é apaixonada pela família que agora está dilacerada por culpa de Jáson. Mas seu amor à sua honra e a Jáson é maior do que qualquer coisa e, então, ela faz o impensável. A sua dor é tão grande, não havendo mais sentido em semear nada e ela, então, mata os filhos, pois esse seria o único jeito de atingir Jáson, de fazê-lo sofrer como ela sofre. Sem este, não há sentido em continuar a viver.

“Corifeu: Ousarás mesmo exterminar seus próprios filhos?
Medéia”: Matando-os, firo mais o coração do pai.
Corifeu: E tornas-te a mulher mais infeliz de todas.
Medéia: Terá de ser assim. Deste momento em diante
quaisquer palavras passarão a ser supérfluas. (EURÍPIDES, p.53)

Estrangeira:

Tanto Ártemis quando Medéia são estrangeiras.

Quanto a Ártemis:

“...os próprios antigos a qualificam como xéne, estrangeira...à “estranheza” da deusa, a sua distância em relação aos deuses, à alteridade que reveste.” (VERNANT 1985, p. 16)

“...Ártemis é uma das divindades gregas que os gregos imaginam não pertencer à Grécia, como um deus vindo de fora, do estrangeiro.” (VERNANT 1985, p. 30)

“Estrangeira, bárbara, selvagem e sanguinária, a Ártemis táurica pertence a um povo que se situa nos antípodas da Grécia.” (VERNANT 1985, p. 30)

E Medéia:

“Ás vezes, todavia, a desditosa volve
O colo de maravilhosa alvura e chora
consigo mesma o pai querido, sua terra,
a casa que traiu para seguir o homem
que hoje a despreza. Frente aos golpes do infortúnio,
sente a coitada quão melhor teria sido
se não abandonasse a pátria de seus pais.” (EURÍPIDES, p. 20)

“Meu pai, minha cidade de onde vim
para viver tão longe, após haver
matado iniquamente meu irmão!” (EURÍPIDES, p. 26)

Estar longe da própria terra já faz com que o humano se sinta em um estado extra-ordinário. Ser estrangeiro implica em não ser natural no país em que se vive. É justamente essa sensação de estranheza que permeia toda a trama de Medéia, fazendo com muitas vezes ela se sinta só e deslocada-

“Estou só,
Proscrita, vítima de ultrajes de um marido
que, como presa, me arrastou a terra estranha...” (EURÍPIDES, p. 29)

Ártemis se reveste desta estranheza, o que a possibilita também ir contra o padrão. Não é uma deusa “normal”, é a deusa do parto, mas repudia o sexo. Protege as crianças até o rito de passagem, mas vai contra o casamento (marco simbólico do mundo adulto). Ela é marcada por essas contradições.

Selvagem:

As duas são mulheres selvagens. Ártemis - “A deusa do mundo selvagem, em todos os planos: os animais selvagens, as plantas e as terras não cultivadas, os jovens ainda não integrados à sociedade ou civilizados. Seria também uma deusa da fecundidade, que faz crescer os vegetais, os animais, os humanos.” (VERNANT 1985, p. 17) e Medéia -

“Para desespero meu
fui aliar-me a uma inimiga, uma leoa
e não uma mulher, ser muito mais feroz
que os monstros mais selvagens.” (EURÍPIDES, p. 74)

Para Ártemis, a ligação com o selvagem se dá pela conexão com a natureza e seus animais, “...uma atração sem limites pela natureza indômita, com suas montanhas, florestas e animais...” (MALAMUD, p. 76). Deusa caçadora, que ama as florestas, os cães e as corças. Ela é uma deusa que pode se conectar com o mundo bárbaro, mas também com o civilizado, (“Mais que de um espaço de total selvageria, representando uma alteridade radical em relação à cidade e as suas terras humanizadas, trata-se dos confins, das zonas limítrofes, das fronteiras onde o Outro se manifesta no contato que regularmente se mantém com ele, convivendo o selvagem e o cultivado, em oposição, é verdade, mas também em interpenetração.” [VERNANT 1985, p. 18]), ficando sempre como uma ponte entre esses dois mundos, conectando-os através do apoio que concede aos jovens em seus ritos de passagem. (“Ela trata de tornar de certa forma permeáveis as fronteiras entre o selvagem e o civilizado...” [VERNANT 1985, p. 20])

Medéia traz em si esse aspecto selvagem ao ser uma mulher feiticeira. Ela vem de um lugar habitado por homens bárbaros e, nas novas terras em que é levada por Jáson, é temida por sua feitiçaria, o que é expresso muito bem em uma fala do rei Creonte:

“Muitas razões se somam para meu temor:
és hábil e entendida em mais de um malefício...” (EURÍPIDES, p. 30)

Sempre houve no imaginário dos homens o temor quanto às mulheres poderosas, capazes de invocar as artes ligadas ao oculto. Mas ela também ajuda com essa bruxaria. É o caso do diálogo com Egeu, em que Medéia promete ajudá-lo em troca de acolhimento.

“...graças a mim
não ficarás sem filhos, logo serás pai;
conheço filtros com essa virtude mágica.” (EURÍPIDES, p. 49)

Conclusão:

Esse trabalho se propôs a aproximar duas mulheres importantes na mitologia grega que poderiam ser vistas como opostas. Nessa tentativa de aproximação se pode comparar as diferentes questões ligadas ao mesmo tema. Duas posições, que teoricamente ocupam lados opostos, falam da mesma rebelião – que é a subversão do papel da mulher grega. “Quero ficar; não devo duvidar de ti, mas a mulher é fraca e chora facilmente.” (EURÍPIDES, p. 57). Com ironia, Medéia explicita o que se é esperado desse papel: “Tens a ciência e, afinal, se a natureza fez-nos a nós, mulheres, de todo incapazes para as boas ações, não há, para a maldade, artífices mais competentes do que nós!” (EURÍPIDES, p. 35). As duas são bárbaras, estrangeiras, contraditórias, viscerais, punitivas. As duas rechaçam as obrigações sociais. É possível dizer que, talvez, tenham sido as primeiras feministas a se voltar contra a sociedade machista e patriarcal: “Não vejo a hora em que se louvará o nosso sexo e não mais pesará sobre as mulheres tão maldosa fama.” (EURÍPIDES, p. 35)

Bibliografia:
• Eurípides. Medéia. Trad. de Mário da Gama Kury. Jorge Zahar Editor, 1991.
• Florenzano, Maria Beatriz Borba. A puberdade: os Ritos de iniciação (Nascer, viver e morrer na Grécia Antiga). Editora Atual, 1996.
• Vernant, Jean Pierre. A morte nos olhos. Jorge Zahar Editor, 1985.
• Kerényi, Karl. Uma imagem mitológica da meninice: Ártemis.
• Malamud, René. O problema das Amazonas
• Brandão, Junito de Souza. Helena, O Eterno Feminino. Petrópolis, Vozes, 1989.

... que seria hoje fosse hoje ...


Instruções de uso: dê corda nos dois ao mesmo tempo.

segunda-feira

Caos.

um poema mais instruções pra exibição de vídeo e som complementar

Instruções :
Dada a minha incompetência e falta de saco para editar eu mesma um vídeo, peço que:
1. pulem os primeiros dois minutos do vídeo (da globo)
2. retirem o som do vídeo (da globo )
3. dêem play no outro vídeo ( da Janis )
4. com o áudio da Janis, assistam.

segue o poema abaixo, escrito no ínterim desses fatos, retrabalhado/revisitado por agora:

agora, as chamas invadem a cidade
só agora chegam tímidas ao asfalto
nessa cidade que tem
índice de mortalidade
de guerra civil, há anos
agora, uns estupefatos
frente à tv globo
babulciam a interrogação
como ?

agora é tarde
Inês é morta.

Inês e Cláudio, Marcos, Joaquim
Carlos, Pedro, Eraldo, João, José
(outros tantos)

pra burguesia proporão paliativos
à mão atada e cara de babaca:

caminhar na Lagoa
pedindo paz
mas,

fora um Mercedes carbonizado
a Lagoa vai muito bem, obrigada

#

o exército mulambo é lindo
é uma serpente disforme
tingida de poeira na encosta
AR-15, fuzil, metralha e esse
passo descansado de soldado

debandando

até que o salvador da pátria
fardado, começa a brincar
de tiro ao alvo

num fodido porém armado
moleque de nem dezoito que quis
um tênis da nike, um troco pra velha, uma bike
e depois,
um pouco mais

até tentou trabalhar no bob’s
uma grana rala
muita gente escrota
no shopping
escrotérrimo
ele foi escrotizando
até tentou extravasar cuspindo
no hambúrguer, no refrigerante

não deu

#

em alguma esquina da Tijuca
do Cosme velho ou do Centro
um sênior dá instruções pro menor:

“pega um fósforo
acende o meu cigarro
taca gasolina nesse carro”