quinta-feira

poesia sobre um livro bom de poesia

os muitos poemas que
me ocorreram nesse
elástico zeptosegundo
em que tardei, desde
a livraria até um café
( peço expresso, de início esqueço a água que acompanha. com a água a necessidade de consumo se estende ou se anula na conservação de um dedo derradeiro até a hora em que o poema definir-se entre lixo, algo que me pareça válido ou algo que pode validar na próxima xícara )
eram sem dúvida (ou
tinham a possibilidade
imensada dado o fato
de que não são) melhores
que esse e poderiam talvez
inscrever-me nos anais
(gostaria de algum dia conseguir empregar esse termo esvaziado da ironia e do cômico)
da literatura

           *

o livro que eu lia e que
amanhã voltarei a ler –
espero que – até a última
página era um livro que
eu gostaria de seguir
relendolendo por dias
à fio (e não vou) mas
o livro que eu lia fazia
a voz ( ainda que
muda) coicear, entre –
cortar nos fins das
frases e cujo desenho
do som remeteria à
imagem dum zig-zag de
tamanhos variáveis ou
à varizes



























os espaços vazios eram
lacuna à preencher por
imagens, aquela distância
dura entre as estrofes
(ou cenas) era o lugar
de inserção da imagem
e fosse meu o exemplar
talvez (num dia de
coragem)  pudesse ser
ilustrado
talvez fosse mais válido
o espaço branco que fez
intuir um fotograma
saturado de luz até o
branco completo mas
onde a imagem esteve
e ainda rescinde
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
um corte sem cicatriz
aparente mas que na
memória permanece
sendo corte ou tanto
quanto um corte pode
permanecer na memória

                             *

o livro tinha essa capacidade
de pausar a cena e assim
percorrê-la numa fina
observação dos agentes
estáticos/estatifeitos
que então sutilmente eram
dissecados/desvendados
nos aspectos aparentes
e não-aparentes pelo
onisciente-onipresente
também atemporal visto
que circulava pelo tempo
possível futuro, detalhe de
passado, agora sob lupa
além de por à tona
flashes fecundos das
idéias de cada um
dos agentes –
o livro que eu lia foi
interrompido na página
63 por uma horda de
entusiastas de literatura e/ou
canapés e champanhe que
irrompeu à livraria para a
vernissage

                                               *




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